Três vinhos singulares do produtor e enólogo João Portugal Ramos, nascidos do desejo de ver como determinada casta reage ao ano e à terra. A opinião do crítico gastronómico da VISÃO Se7e, Manuel Gonçalves da Silva
Como agrónomo, tenho sempre uma enorme curiosidade em ver o comportamento de um vinho proveniente de uma determinada vinha, plantada num determinado solo. Os chamados vinhos de single vineyards.” Assim explica João Portugal Ramos, à VISÃO Se7e, as razões que o levaram a dar início à produção da marca Quinta da Viçosa, em 2001, e a reproduzir esse conceito noutros locais. A Viçosa era uma vinha que o apaixonava pela sua diversidade e o seu enorme potencial: 40 hectares, em modo biológico, onde decidiu plantar diferentes castas, nacionais e estrangeiras. Depois, nos anos por si considerados extraordinários, lançou no mercado um blend de duas castas, uma autóctone e outra internacional (a primeira edição, com Syrah Trincadeira; a mais recente, com Aragonês e Syrah).
Em 2015, a tal curiosidade fê-lo pousar os olhos na Vinha do Jeremias – 4 hectares plantados em 2003 com dois clones Syrah selecionados “por serem menos produtivos e, como tal, darem origem a vinhos mais concentrados” – e na vinha de S. Lázaro – limitada a 1,5 hectare de Touriga Nacional, plantada numa encosta virada a sul, envolvendo as muralhas do Castelo de Estremoz. Da primeira vinha resultou, na opinião de João Portugal Ramos, “um tinto potente, elegante, com taninos bem envolvidos e grande persistência final”; da segunda, um vinho “cujo aroma denota uma boa concentração de fruta bem madura com um toque de vegetal, rico e volumoso ao fruto com suaves taninos e final tostado e longo”.
Três vinhos distintos, que são “a forma mais fiável de ver como o meio envolvente intervém no resultado de um vinho”, segundo o enólogo, que acrescenta: “Toda a história daquela vinha que lhes dá origem vai acabar na garrafa.” Prová-los é uma experiência gratificante.
Quinta da Viçosa Regional Alentejano Tinto 2017
Com uvas das castas Aragonez e Syrah, tem cor violeta profunda; aroma concentrado com múltiplas notas de frutos pretos maduros, especiarias, chocolate preto; paladar cheio, com acidez bem envolvida; final elegante e persistente. Manifestamente gastronómico. €25
Vinha do Jeremias – Single Vineyard Syrah Regional Alentejano Tinto 2015
Apresenta uma cor rubi carregada, aroma intenso e expressivo, avultando as notas de frutos pretos e de especiarias e o toque mineral, paladar volumoso e macio com muito boa acidez, final muito longo, elegante, com frescura cativante. €25
Vinha de São Lázaro – Single Vineyard Touriga Nacional 2015
É maciço de cor; elegante e complexo no aroma, com presença de fruta bem madura e notas florais, vegetais a erva seca e minerais; rico, volumoso e suave no paladar; intenso e longo no final. €25
Manuel Gonçalves da Silva, 11 de Agosto de 2019 às 06:00
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João Portugal Ramos: Cada vinha, seu vinho | Visão