Despertar o legado das aguardentes portuguesas no mundo
Hoje, o consumo das aguardentes é ainda maioritariamente nacional. (...) Chegou o momento de dar o próximo passo. Impõe-se-nos arriscar em mercados asiáticos, que tanto apreciam Cognac.
Portugal nunca esteve tão na moda. São várias as áreas de negócio que hoje levam o nosso nome além-fronteiras, despertando o interesse de milhares de turistas em conhecer este nosso país à beira mar plantado.
Há alguns anos atrás notava existir uma certa vergonha (ou seria demasiada humildade?) em vender produtos portugueses. Mas hoje tudo é feito e comunicado com orgulho. É o exemplo dado pelos vinhos nacionais, que ano após ano ganham mais e melhores prémios no mundo, crescendo na exportação de forma sustentada e atingindo uma escala cada vez mais relevante na economia.
Mas hoje falo-vos de uma outra riqueza da nossa cultura, menos falada, menos conhecida, mas com igual vocação internacional, a saber, as aguardentes – um produto tão português que várias vezes suplanta os seus congéneres em provas cegas. É da nossa responsabilidade e missão recuperar também esta história, esta tradição e esse legado.
Regressemos ao início. Ao longo dos tempos, os destilados de cereais, de uva e de outros frutos atravessaram fronteiras e começaram a popularizar-se em diversos países europeus. Na Rússia, o centeio virou Vodka. Em Itália, fermentaram e destilaram o mosto produzido pelo bagaço da uva e fizeram a Grappa. Na Escócia, transformaram a cevada maltada em Whisky. No Japão, o arroz virou Saquê. E em Portugal? Em Portugal as castas portuguesas deram origem a aguardentes vínicas pela destilação do vinho.
Estas aguardentes pertencem na realidade à mesma família do Cognac, Armagnac e Brandy de Jerez, uma vez que passam pelo mesmo processo, mas em Portugal têm, como grande diferencial, a tipicidade das castas de uvas utilizadas na sua preparação, o que as torna simplesmente únicas.
Hoje, o consumo das aguardentes é ainda maioritariamente nacional. Exportamos as nossas aguardentes vínicas para vários mercados, seja por razões de afinidade cultural ou proximidade geográfica, mas chegou o momento de dar o próximo passo. Impõe-se-nos arriscar em mercados asiáticos, que tanto apreciam Cognac, e alargar a distribuição aos consumidores locais em países como os Estados Unidos e o Canadá…
Não queremos ser comparados aos Cognac. Queremos sim mostrar que, tal como no vinho, também o que de melhor se faz em aguardentes se encontra em Portugal. O nosso lugar no mundo das aguardentes vínicas está aí para ser consolidado e, por isso, podemos fazer a diferença – pela nossa história, cultura e pelo nosso poderoso legado, nos quais se inscrevem as características vínicas inimitáveis do nosso país.
João Portugal Ramos, 25 de fevereiro de 2019 às 12:36
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